Ana Bolena (em inglês: Anne Boleyn; Norfolk, c. 1501/1507[1] — Torre de Londres, 19 de Maio de 1536) foi marquesa de Pembroke e a segunda mulher de Henrique VIII de Inglaterra e mãe da rainha Isabel I de Inglaterra. O seu casamento com Henrique VIII foi polémico do ponto de vista político e religioso e resultou na criação da Igreja Anglicana.
Ana era filha de Tomás Bolena, Conde de Wiltshire e de Isabel Howard, filha do Duque de Norfolk. A data e local do seu nascimento permanecem incertos no intervalo 1501-1507.[1] Ana foi educada nos Países Baixos, na corte de Margarida, Arquiduquesa da Áustria.[2] Por volta de 1514, viajou para a corte francesa onde se tornou numa das aias da rainha Cláudia de Valois (mulher deFrancisco I), onde aprendeu a falar francês e se familiarizou com a cultura e etiqueta deste país. Esta experiência haveria de se mostrar decisiva na formação da sua personalidade.[3][4]
Em Janeiro de 1522, Ana Bolena regressou à Inglaterra por ordens do pai e entrou ao serviço de Catarina de Aragão, a consorte do rei Henrique VIII de quem a sua irmã, Maria Bolena, era então a amante "oficial".[5] Neste período, Ana desenvolveu uma relação com Henry Percy, o filho do Conde de Northumberland, e os dois chegaram a estar secretamente noivos. O casamento foi impedido pelo pai de Percy por razões incertas e Ana foi afastada da corte.[6] Em meados de 1525, estava de regresso e no ano seguinte, substituiu a sua irmã mais nova nas atenções do rei. A princípio, Ana seduziu-o, estimulou todos os avanços de Henrique VIII, mas não aceitava ser sua amante, queria o trono da Inglaterra. O fato de Maria Bolena ter dado ao Rei uma filha e um filho despertou nele a intenção de casar-se novamente para produzir um herdeiro legítimo, já que Catarina de Aragão não parecia ser capaz de produzir um herdeiro varão para a casa de Tudor.
O poder de Ana aumentou de forma excepcional. Tornou-se influente na diplomacia inglesa ao estabelecer uma relação de amizade com Monsieur de la Pommeraye, embaixador francês. O diplomata John Barlow espiava no Vaticano às suas ordens. Em 1532, Henrique VIII tornou-a Marquesa de Pembroke, fazendo-a a primeira mulher a receber um título nobiliárquico de seu pleno direito.[7] A sua família foi também beneficiada: o pai recebeu o Condado de Ormonde e o irmão, Jorge Bolena, tornou-se Visconde Rochford. Ana não era no entanto uma personagem popular. Em 1531 os apoiantes da rainha Catarina organizaram uma manifestação contra Ana Bolena que reuniu oito mil mulheres nas ruas de Londres.
Há uma curiosidade que permite avaliar a personalidade forte e marcante de Ana Bolena e segundo fontes históricas[quem?] aconteceu por ocasião de sua execução. Alguns, inclusive, dizem ter sido um último recurso da rainha para retardar a consumação da execução, ainda esperançosa de um perdão real por parte de Henrique VIII, perdão este que estaria sendo defendido pela sua irmã, Maria. Quando informada da sua iminente execução, Ana Bolena fez chegar a Henrique VIII uma exigência - não aceitaria ser morta por um carrasco inglês, que utilizava o machado para a decapitação. Exigia a "importação" de um carrasco francês, pois estes usavam a espada. Para justificar a sua exigência, teria dito "uma Rainha da Inglaterra não curva a cabeça para ninguém e em nenhuma situação", pois as execuções com a espada eram feitas com a vítima ajoelhada, mas com a cabeça erguida.[19]
Na manhã de sexta-feira, 19 de Maio, Ana Bolena foi executada, não na Torre Verde, mas sim num andaime erigido sobre o lado norte da Torre Branca, em frente do que é hoje as Casernas de Waterloo[20] Ela usava um saiote vermelho sob um avulso, um vestido de tordilha de damasco aparado na pele e um manto de arminho.[21] Acompanhada por duas assistentes do sexo feminino, Ana fez seu último passeio da Casa da Rainha à Torre Verde e ela olhou "como se ela não fosse morrer".[22] Ana subiu o cadafalso e fez um breve discurso para a multidão:
“ | Bom povo cristão, vim aqui para morrer, de acordo com a lei, e pela lei fui julgada para morrer, e por isso não vou falar nada contra ela. Não vim aqui para acusar ninguém, nem para falar de algo de que sou acusada e condenada a morrer, mas rezo a Deus para que salve o rei e que ele tenha um longo reinado sobre vós, pois nunca um príncipe tão misericordioso esteve lá: e para mim ele será sempre um bom, gentil e soberano Senhor. E se qualquer pessoa ponha isso em causa, obrigá-la-ei a julgar os melhores. E assim deixo o mundo e todos vós, e sinceramente desejo que todos rezem por mim. Ó Senhor, tem misericórdia de mim, eu louvo a Deus a minha alma.[23] | ” |
Ana obteve o que requisitava, mostrando que até nos seus últimos momentos, ainda era capaz de impressionar o rei. Ela foi decapitada por um carrasco francês, tal como pedira. Henrique não providenciou um sepulcro para Ana, e assim o seu corpo e a cabeça foram enterrados num túmulo desmarcado na Capela Real de São Pedro ad Vincula. O seu esqueleto foi identificado durante a renovação da capela, no reinado da Rainha Vitória e o local de repouso de Ana está marcado no chão em mármore.
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